Na festa da Anunciação do Senhor, a Igreja nos convida a considerar como essa importante solenidade põe sob novas luzes a nossa vivência do tempo pascal. Durante esse período em que comemoramos a gloriosa Ressurreição de Cristo, somos chamados a renovar todos os dias a nossa santa fé católica. E é precisamente aqui, na intimidade do mais fiel dos corações, que podemos vislumbrar em que consiste fundamentalmente a felicidade de nossa querida Mãe do Céu, a quem hoje é anunciada a Encarnação do Filho de Deus. "Bem-aventurada és tu que creste", diz-lhe a prima Isabel. Também o Senhor repetirá essa mesma ideia, quando, anos mais tarde, responder àquela mulher exaltada (cf. Lc 11, 27): "Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam" (Lc 11, 28). Por isso, diz Santo Agostinho: "Beatior Maria est percipiendo fidem Christi quam concipiendo carnem Christi" — "Maria foi mais feliz de receber a fé de Cristo do que de conceber a carne de Cristo" (De Virginitate, 3; cf. Sum. Th. III, q. 30, a. 1, resp.).
Isso porque, se não houvesse fé nem, por conseguinte, aquela união espiritual que a faz verdadeiramente íntima de Jesus, conceber a carne do Salvador seria para a Virgem Santíssima um mero ato biológico. Neste caso, a maternidade de Maria não seria mais do que um simples parentesco. Ora, que proveito poderia ela tirar desta sua maternal e imerecida proximidade do homem-Deus, se não O houvesse concebido antes no coração do que no útero (cf. De Virginitate, 4)? Com efeito, de que serviu aos irmãos de Jesus ter a graça de serem seus parentes, se nEle não quiseram acreditar? É por esta razão que o Senhor, ensinado-nos a prioridade do amor e da obediência sobre os laços de sangue, diz: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" (Mt 12, 48) E, apontando com a mão para os seus discípulos, acrescentou: "Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mt 12, 50), pois mais fortes e mais estreitos são os vínculos do espírito do que os do corpo.
Com a instituição da Eucaristia e com o envio do Espírito Santo após sua Ascensão aos Céus, Cristo nos deu a grande oportunidade de entrarmos em contato consigo pelo toque tanto da fé quanto do seu sacratíssimo Corpo; deu-nos, assim, a graça de sermos também nós bem-aventurados, porque cremos. Daí a necessidade de, seguindo os passos de Nossa Senhora, procurarmos crescer sempre na fé. A quem deseja ser verdadeiro amigo de Jesus e participar de sua alegria celeste, não basta o ser batizado, não basta o dizer-se cristão. Temos de querer amá-lo por meio da fé e da obediência à sua palavra, pela observância dos seus mandamentos. Peçamos, pois, a Maria Santíssima que nos inspire o desejo de estarmos cada dia mais unidos ao seu Filho, que, vendo-nos desde toda a eternidade, disse a nosso respeito nestes tempos pascais: "Bem-aventurados os que creram sem ter visto" (Jo 20, 29).
Fonte: padrepauloricardo.org