Foto: AP / Apichart Weerawong.
A repercusão na mídia sobre o caso do bebê tailandês Gammy
obviamente tocou os corações de muitas pessoas ao redor do mundo.
Por Ben Smith, Catholic
Outlook Setembro 2014
A recente repercursão na mídia em torno da história do bebê Gammy na
Tailândia causou uma sensação global; levando a junta do governo militar
daquele país propor a proibição da barriga de aluguel comercial.
A cobertura da mídia sobre a história tem sido complicada por uma série
de voltas e reviravoltas. No entanto, a situação permanece a mesma.
Em seu livro Bioética Católica para um Novo Milênio (Catholic Bioethics
for a New Millennium)[i], o Bispo de Parramatta e especialista em bioética, o
Reverendíssimo Bispo Anthony Fisher O.P., disse que as crianças tornaram-se o
último grande item de consumo para as pessoas que tem tudo.
Ele disse que propriedade, patentes, quantidade e controle de
qualidade, bem como as taxas de “bebê para levar para casa” fazem parte da linguagem
e mentalidade do livre mercado e indicam a colonização dos úteros e berçários.
A situação do bebê Gammy destacou uma série de práticas moralmente
censuráveis relativas à indústria das barrigas de alugueis comerciais nos
países em desenvolvimento, como a Tailândia.
Há um número crescente de mulheres jovens vulneráveis nos países pobres
que estão sendo usadas como mães de aluguel por empresários para fornecer
filhos a clientes ricos do primeiro mundo. A situação financeira dessas mães de
aluguel significa que elas podem estar sujeitas a todos os tipos de exploração.
Elas podem sentir um forte vínculo com os filhos gerados em seus
ventres e, naturalmente, podem achar que é muito difícil de entregar os bebês a
quem geraram e deram à luz.
Os bebês que essas mulheres levam em seus ventres são frequentemente
sujeitos a uma série de testes para garantir que o bebê "pré-encomendado"
responde às "exigências" do casal comprador.
Recentemente o jornal australiano “The Australian”[ii] relatou que
funcionários da Embaixada da Austrália em Bangkok tentaram impedir em diversas
ocasiões que casais australianos cancelassem os seus contratos porque os bebês
tinham defeitos genéticos.
A reportagem também informa que há problemas se a criança não é do sexo
solicitado (há preferencia para crianças do sexo feminino do que do sexo
masculino) ou até mesmo porque a mãe de aluguel estava grávida de gêmeos e se
recusou a fazer uma "redução seletiva", um aborto para matar apenas
uma das crianças.
A mercantilização da vida, seja das mães de aluguel ou a vida dos filhos
que elas carregam é uma parte intrínseca de qualquer abordagem sobre a barriga
de aluguel comercial. Muitas coisas não são feitas para serem compradas ou
vendidas - especialmente a vida de uma pessoa ou o seu útero.
A Igreja nos ensina que esta “comercialização” está inteiramente em desacordo
com o direito à inviolabilidade da sacralidade da vida de todas as pessoas,
desde a sua concepção até a morte natural.
Enquanto a Igreja entende a luta e a tristeza enfrentado por casais sem
filhos, ela ensina que barriga de aluguel, até mesmo na mais altruísta das circunstâncias
nunca pode ser justificada. Isso viola a integridade do útero de uma mulher e
da vida que é criada.
Também complica a identidade familiar de uma criança, porque elas
poderiam ter potencialmente até três "mães" (uma mãe biológica que
forneceu o óvulo, uma mãe de aluguel e uma mãe legal / tutora).
A compreensão da Igreja a respeito da ordem natural é que os bebês
devem ser concebidos naturalmente pelo amor de um marido e uma esposa, no
ventre desta que é a mãe biológica.
Uma coisa positiva emerge dessa história, que é a preocupação manifestada
para com o bebê Gammy. Uma instituição de caridade recebeu promessas de mais de
US$ 250.000 (duzentos e cinqüenta mil dólares) para ajudar com suas despesas
médicas.
No entanto, a indignação moral com este bebê está em nítido contraste
com a atitude demonstrada para com os bebês que ainda não nasceram e são
diagnosticados com Síndrome de Down na Austrália.
A triagem de bebês em gestação é uma prática obstétrica de rotina
neste país. E quando um casal recebe o diagnóstico de um filho com síndrome de
Down, são também significativamente pressionados a abortarem a criança.
Há homens e mulheres corajosos que resistem a essa pressão injusta.
Será que o ato de ver um bebê fotogênico com síndrome de
Down muda a visão das pessoas sobre o valor da vida?
Será que nossos instintos morais básicos no que diz respeito às
questões bioéticas não estão encobertos pela retórica dos profissionais médicos
e intelectuais públicos?
Será que nós, como sociedade, não esperamos que os
outros sigam um padrão moral mais elevado do que os que se aplicam a nós
mesmos?
A história do bebê Gammy provocou um debate valioso em torno
do comércio de barrigas de aluguel e tecnologias reprodutivas. Esse debate só
reforça o compromisso da Igreja com o respeito a sacralidade da vida.
Ben Smith é diretor do Grupo de Família e Vida da Diocese de
Parramatta.
[i] Anthony Fisher, Catholic Bioethics para um Novo Milênio, (Cambridge
University Press, Reino Unido, 2012), pág 15
[ii] O artigo australiano: ['Criança abandonada substituto é
apenas uma das muitas tragédias ", 4/8/14]
Tags: Catholic
Outlook, Catholic Diocese of Parramatta Family & Life Office, Baby Gammy.
Adaptação: JAE Juventude Amor Esperança