Se você está afundando na escuridão, é fundamental “levantar a mão” e pedir ajuda.
Um pequeno texto anônimo diz: “Erga a mão o mais alto possível e Deus vai completar a distância que os separa”. É a frase à que eu recorro durante aqueles momentos em que sinto chegar certa escuridão emocional: a depressão. Para muitos de nós, essa escuridão é um velho e indesejado amigo, o “cão negro” mencionado por Winston Churchill – também chamado de transtorno afetivo sazonal.
O Manual de diagnóstico dos transtornos mentais (DSM) contém definições clínicas para a depressão. Também podemos recorrer à explicação sobre a escuridão espiritual que são João da Cruz escreve em A noite escura da alma. Seja qual for a maneira pela qual você chegou a um estado depressivo ou qual foi a história que o levou até a doença, a chave nestes momentos é estender a mão e buscar o contato.
O estado de depressão não é um vazio. É um espaço cheio de conhecimento diante do qual estamos momentaneamente cegos. Quando tentamos alcançar esse conhecimento sozinhos, geralmente ficamos cansados para continuar aprofundando. Por isso, sucumbimos às ondas de desespero.
Buscar o contato não é um movimento intuitivo quando estamos debilitados psicológica e espiritualmente. Embora tenham nos ensinado que perder a esperança é virar as costas para Deus, o que é pecado, há outro elemento do desespero que é negligenciado. Vem da Regra de São Bento: “Em tudo Deus seja glorificado”.
Em uma recente confissão, estando eu em uma época de depressão, o padre me deu uma penitência bem concreta. Eu deveria ler sobre Jesus caminhando sobre o mar tempestuoso e sobre o medo de Pedro (em Mateus, 14). Depois, teria que refletir especificamente sobre o momento em que Pedro se desespera e busca a ajuda de Nosso Senhor, naquele segundo antes de Jesus tomar a mão dele.
Foi um momento cheio de dúvidas para Pedro, cuja fé havia fraquejado. Também foi uma resposta intuitiva para uma pessoa que estava se afogando fisicamente: estender a mão, tentar se agarrar a qualquer coisa para salvar a própria vida.
O padre me sugeriu essa imagem para que eu refletisse; uma metáfora para que eu voltasse a estender a mão para Cristo – psicológica e espiritualmente. Eu fiquei surpresa com a rapidez com que o instinto de sobreviver espiritualmente se emparelha ao desejo de viver fisicamente quando se está esgotado e em águas profundas.
Na tranquilidade por saber que o Senhor tomou a minha mão e que eu não afundarei, costumo ler esta oração. Às vezes, leio-a até três vezes seguidas:
Permanece comigo, Senhor, pois eu preciso que estejas presente para que eu não me esqueça de ti. Tu já sabes como é fácil para mim te esquecer.
Permanece comigo, Senhor, pois sou fraco e preciso da tua força para não cair tão frequentemente.
Permanece comigo, Senhor, pois tu és a minha vida, e, sem ti, não tenho fervor.
Permanece comigo, Senhor, pois tu és a minha luz, e, sem ti, sou trevas.
Permanece comigo, Senhor, para me mostrar a tua vontade.
Permanece comigo, Senhor, para que eu ouça a tua voz e te siga.
Permanece comigo, Senhor, pois eu quero te amar muito e estar sempre em tua companhia.
Permanece comigo, Senhor, se desejas que eu seja fiel a ti.
Permanece comigo, Senhor, pois, por mais pobre que seja a minha alma, quero que ela seja um lugar de consolo para ti, um ninho de amor.
Amém.
(São Pio de Pietrelcina – Oração para depois da Comunhão)
A depressão é uma batalha e, para muitos de nós, uma cruz para carregar por toda a vida. Ao carregá-la da melhor forma possível, podemos, ao mesmo tempo em que pedimos ajuda, ser conduzidos a uma maturidade mais profunda na fé. Algo que, como a maioria das virtudes, não é tão simples de conquistar.
Fonte: aleteia.org