Eles tinham caráter colérico, mas conseguiram colocá-lo a serviço de Deus
Muitos acontecimentos recentes têm levado não pouca gente a se enfurecer contra a injustiça, contra líderes políticos, contra a mídia, contra os terroristas e outros semeadores de violência.
O sentimento de raiva faz parte do ser humano. Até Jesus ficou com raiva em certas ocasiões. Mas temos que distinguir o seguinte: sentir raiva é natural e, às vezes, até elogiável, já que é sinal de sadia indignação diante do mal; no entanto, não podemos dizer o mesmo quanto à ira que busca vingança: consentir na ira é pecado.
A ira é um desejo de vingança: ela consiste em desejar o mal contra alguém como punição. É louvável impor uma reparação voltada a corrigir vícios e conservar o bem da justiça, mas é ilícito desejar o mal como vingança (cf. Catecismo, nº 2302).
A raiva diante do terrorismo, do racismo ou da corrupção, por exemplo, é uma reação apropriada, que manifesta o nosso desejo de corrigir vícios e proteger a justiça. Acontece que, muitas vezes, não conseguimos controlar essa raiva – e podemos confundir a sadia indignação diante do mal com um desejo odioso de vingança.
Muitos santos tiveram de brigar com os seus sentimentos de raiva e se cuidar para não cair no pecado da ira. Eles viam o que havia de profundamente errado no mundo e sentiam raiva, mas, em vez de ceder à tentação de destruir, usaram a força da sua indignação para lutar com ainda mais energia pela restauração da justiça através da caridade.
Confira esses três exemplos de santos que podem ajudar você a canalizar a sua raiva de forma adequada!
SÃO PEDRO
Por causa de suas muitas imperfeições, São Pedro teve um difícil início como apóstolo. Basta recordar o seu acesso de raiva quando da prisão de Jesus no Getsêmani. Os soldados entraram no jardim e perguntaram qual deles era Jesus. Quando o Mestre se entregou livremente, Pedro reagiu.
“E eis que um dos que estavam com Jesus colocou a mão sobre a sua espada, puxou dela e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha. Então Jesus disse: Guarda a tua espada na bainha, pois todos os que tomarem a espada perecerão pela espada. Pensas acaso que eu não poderia agora orar a meu Pai, que me enviaria mais de doze legiões de anjos?” (Mateus 26, 51-53).
A raiva contra a injustiça foi compreensível, mas Jesus foi rápido em corrigir Pedro e lhe mostrar que a resposta não está na violência.
SÃO JERÔNIMO
Ele é conhecido como um dos santos mais irritadiços de toda a história do cristianismo! O próprio Jerônimo admitia as suas intolerâncias. Falava o que pensava e não usava meios termos, como numa carta em que escreveu que “aquele que não ama os mandamentos de Cristo é mais que um inimigo de Cristo: é o anticristo“. Foram muitas as vezes em que se viu às voltas com sérios problemas por causa dos seus modos explosivos.
Jerônimo, no entanto, era bem consciente das suas limitações e levou uma vida de penitência. A este propósito, conta-se de certo bispo que, ao ver uma pintura do santo batendo no peito com uma pedra, declarou: “Fazes bem em golpear-te com essa pedra. Do contrário, a Igreja nunca te teria canonizado” (cf. Vidas dos Santos, de Alban Butler).
SÃO FRANCISCO DE SALES
Eis mais um santo que lutou contra as explosões furiosas. Ele mesmo declarou, por exemplo, que certas piadas de mau gosto o tiravam do sério. São Francisco de Sales lutou com o seu temperamento durante mais de 19 anos, antes que a família conseguisse ajudá-lo a controlar sua raiva. Esta experiência contribuiu para a redação da “Introdução à Vida Devota”, livro em que ele discorreu extensamente sobre a raiva.
“Se sois como o salmista, prontos a gritar ‘Os meus olhos são consumidos pela raiva’, ide em frente e dizei: ‘Tem piedade de mim, Senhor’, para que Deus possa estender a sua mão direita e controlar a vossa ira”.
Fonte: aleteia.org